A dimensão de sonhos e realidades se tece com palavras.
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sexta-feira, 14 de maio de 2010

Prateleiras e Lacunas



Após mais uma cansativa manhã de estudo na faculdade, lá está Helena, percorrendo as estantes da biblioteca. O cansaço não lhe importa. Há lacunas a serem preenchidas. Sempre haverá. E o tempo parece insuficiente.

O relógio na parede não pode parar. O pôr-do-sol lá fora é uma certeza. Mas, entre as prateleiras, o tempo e o espaço se misturam. Neles, Helena se encontra e se perde. Plena de sentimentos e significados. Envolvida pelos sentidos que as palavras despertam.

Os livros exalam mistérios. O silêncio é fundamental e inquietante. Vozes e olhares povoam sua mente. Por instantes, sonha, sorri, quase chora. Embriagada de palavras.

Às vezes, ela teme a imensidão. Existem desertos, mares, florestas. As estantes lhe parecem muito altas, imponentes. Os livros, porém, querem ser abertos. Por isso eles vivem e imploram. Necessitam de mãos.

Os olhos de Helena nem se demoram na página. São ligeiros, porém melancólicos. Têm a nostalgia dos livros antigos. Singelos, como os poemas de Casimiro.

E, quando a tarde chega ao fim, ela nunca sai de lá como entrou. Passos seguros e rosto sereno. Seja a Helena de Tróia, ou de Machado, ela tem seu mundo. As palavras o constroem com todas as cores, formas e cantigas, que se desenham em sua mente.

(FONSECA, Rosaly. Casa dos ventos: contos e crônicas. Niterói, RJ: Nitpress, 2009.)

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